Recentemente li um
texto, e não foi o primeiro, afirmando que Milton Saldanha errou sobre Madame
Poças Leitão ter iniciado o ensino de Dança de Salão do Brasil. O texto
referia-se ao artigo de Milton Saldanha, “Há 80 anos nascia o ensino de Dança
de Salão no Brasil”, publicado no Jornal Dance em 1995.
Entretanto, não
acredito que o resultado de Saldanha seja errado para o método que utilizou em
sua pesquisa. A exemplo de outros, seu método não incluía considerar o primeiro
periódico impresso de São Paulo e nem do Rio de Janeiro. Justificável em um
tempo no qual a internet não disponibilizava tanto quanto hoje.
Já o método utilizado
para propor que Luis Lacombe deu início ao ensino oficial de Dança de Salão no
Brasil incluiu a leitura do primeiro periódico impresso carioca, a Gazeta do
Rio de Janeiro. Uma edição deste jornal, datada de 1811, traz o registro de um
anúncio de aulas feito por Luis Lacombe (Costa, 2011). Possivelmente, outro
método traria resultado diferente.
Isto vale para toda a
pesquisa. Por exemplo, em 2012 Marco Antônio Perna publicou na página 109 do
Volume 4 da obra por ele organizada “200 anos de Dança de Salão no Brasil”:
Pelos
registros atuais endossado pelas notas do jornal “O Estado de São Paulo” o
ensino da dança de salão em São Paulo começou com chicote de Madama Poças Leitão
(Louise Frida Reynold Poças Leitão).
Esta pode ser uma
afirmação correta para um método que utilizou o acervo do jornal O Estado de
São Paulo, que começou a ser editado em 1875. Mas, segundo metodologia que
inclui o primeiro periódico impresso da cidade de São Paulo, “O Farol
Paulistano”, há alguns anos já disponibilizado pela Biblioteca Nacional para
consulta digital via internet, Madame Poças Leitão não poderia ter começado o
ensino de Dança de Salão em São Paulo. Em uma edição datada de 1831, o jornal
traz o registro de Mr. Anjo Chaves anunciando aulas de dança e organização de
bailes, portanto, quase um século antes dos registros de Madame Poças Leitão. Veja detalhes em: http://danca-de-salao-maristela-zamoner.blogspot.com.br/2013/05/em-1831-mr-anjo-chaves-anuncia-aulas-de.html.
Por isto Marco
Antonio Perna errou? Não, ele registrou a informação que tinha encontrado pelos
meios que escolheu utilizar para pesquisar, segundo os quais, sua conclusão está
correta.
Meu entendimento é
que nenhum dos dois, nem Perna e menos ainda Saldanha merecem ter seus textos julgados
e condenados como “errados”.
Para mim, erro na
construção do conhecimento é plágio, embuste, desrespeito à ética e qualquer
atitude de má fé. E tudo que é feito com o desejo legítimo de contribuir é apenas
a conclusão de certo método, jamais erro.
É íntegro respeitar
as pessoas que tem coragem de produzir textos e publicá-los, expondo-se à
crítica, a exemplo de Saldanha e também de Perna. A construção do conhecimento
é um processo que tem em seu escopo o falseamento. Isto quer dizer que se auto
aprimora, auto corrige ao longo do tempo. À medida que a pesquisa avança, acrescentar
conclusões vindas de métodos mais abrangentes é parte do processo e é
exatamente este o esplendor da Ciência.
No conhecimento sobre
Dança de Salão, praticamente tudo está em construção. Mais uma razão para primarmos
pela cordialidade com nossos pares a cada texto que publicamos.
Referências
bibliográficas citadas
Costa, Leonor. 200 anos de muitos
bailes. In: Perna, Marco Antonio [org]. 200 anos de Dança de Salão. Volume 1.
Amaragão Edições de Periódicos. Rio de Janeiro. 2011.
Perna,
Marco Antonio. Pequena história da Dança de Salão na cidade de São Paulo. In:
Perna, Marco Antonio [org]. 200 anos de Dança de Salão. Volume 4. Amaragão
Edições de Periódicos. Rio de Janeiro. 2012.
Saldanha,
Milton. Há 80 anos nascia o ensino de Dança de Salão no Brasil. Jornal Dance. Ano II. nº. 4.
Janeiro/fevereiro de 1995.
Zamoner, Maristela. Em 1831 Mr. Anjo
Chaves anuncia aulas de dança em São Paulo. Dança de Salão – Maristela Zamoner.
Curitiba. 2013. Disponível em:
http://danca-de-salao-maristela-zamoner.blogspot.com.br/2013/05/em-1831-mr-anjo-chaves-anuncia-aulas-de.html.
Periódicos antigos disponibilizados em
meio digital pela Biblioteca Nacional (http://hemerotecadigital.bn.br), Consultados em 17
de maio de 2013:
Gazeta do Rio de Janeiro. 13 de Julho
de 1811.
O Farol Paulistano. 24 de fevereiro de
2013.
Pois eu não errei em momento algum. Veja na página 108 onde eu digo que não se pode afirmar que ela foi a primeira profa de SP e que até o momento era a que eu tinha conhecimento. Logo deixei claro que possivelmente existia anterior, porém sem meu conhecimento. Procedimento bem diferente do Saldanha e seu. Qualquer aluno de história ginasial sabe que no segundo reinado existiam inúmeros bailes, donde se conclui que é impossível imaginar que a primeira escola de dança foi em SP no início do século 20. Não é necessário nenhum periódico de 1811 para chegar a essa conclusão. E o mais importante é fazer a "mea culpa", coisa que sempre que necessário eu faço e outros não.
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