6 de maio de 2013

Crianças no salão


Existem bailes configurados de tal forma que admitem a presença de crianças. Neles, não há problemas em levar filhos pequenos. Entretanto, a maioria não é local apropriado para crianças.
Recentemente fui a um baile de formatura em um grande clube de Curitiba. O início do evento foi marcado para 22h. Chegamos 23h e muitos jovens estavam presentes. Antes das duas da manhã, boa parte deles, estava embriagada. O chão tinha bebida derramada e sujeira que incluía cacos de vidro. O som era ensurdecedor, apitos, cornetas e auto falantes muito altos. Normal para o que se entende por um bom baile de formatura hoje. De fato, todos se divertiam dançando e usando aqueles apetrechos de fantasias para festas. Ou, quase todos. Para minha surpresa, neste ambiente, chamou a atenção um rapaz de vinte e poucos anos que estava com uma criança que não devia ter mais de cinco anos. Podem haver mais, mas, imaginei duas hipóteses para explicar a presença deste menininho naquele ambiente.
A primeira delas é a da natureza do adulto humano. Fomos selecionados para gostar de crianças. Naturalmente, quem tem filhos é irrestritamente apoiado e muitas vezes sustentado pela sociedade como um todo, especialmente em um país com as políticas públicas do Brasil. Sem isto a espécie humana não seria viável e não teríamos chegado a uma população de sete bilhões de pessoas, um tamanho que começa a chegar ao outro extremo, ameaçar a espécie por destruição do planeta. Crianças nos despertam o instinto de proteção. Estudiosos dizem que o tamanho diminuto do corpo, cabeça proporcionalmente maior e olhos grandes provocam reações na química cerebral do adulto normal, levando-o a querer cuidar. Pais e mães tem esta sensação intensificada, portanto, sua química cerebral é movida ainda mais fortemente para defender suas crias, admirá-las, e entenderem subliminarmente que são sua própria continuação. Embora filhos sejam outras pessoas, não seus pais. Talvez por isto quando alguém fala sobre todas as penosas dificuldades que um filho traz para a vida do adulto, pais argumentam que tudo vale a pena quando veem o sorriso do filho ou algo semelhante. Respostas que só podem ser dadas por um cérebro que está pai ou mãe. Comportamento selecionado ao longo de muitas gerações. Do contrário a espécie estaria extinta. Também é sabido que estas alterações químicas do cérebro levam pais a fazerem coisas incríveis, que só eles são capazes de fazer por seus filhos. Infelizmente, este instinto, não raro, leva adultos da atualidade a agirem de forma a prejudicar seus filhos, sem nem se darem conta disto. Há mães que protegem demais e a pessoa cresce sem saber enfrentar o mundo, há pais que não conseguem dar limites aos seus filhos confundindo isto com amor, outros nem ao menos percebem que o filho precisa ser corrigido porque sua visão é de que sua criança é a melhor de todas, mais linda, mais inteligente e mais perfeita. No fundo, pais e mães normais tendem a achar, mesmo sem terem plena consciência disto, que seus filhos são melhores que os outros. É muito comum olharmos um pai ou uma mãe admirando seu filho em público enquanto procuram o olhar dos adultos a sua volta para certificarem-se de que também estão admirando seu pimpolho. Há também os pais que tem muita dificuldade em ficar longe do filho, de tanto que querem cuidar, proteger e, muito frequentemente, exibir. Natural. Então, esta seria uma explicação para um filho de uns cinco anos estar em um baile como o que descrevi, o pai tem dificuldade de ficar longe e/ou quer exibi-lo. De fato a criança era linda.
A segunda possibilidade é bem diferente. A ginecologista Eliza Yoshiko Silva registrou em sua dissertação de mestrado que quase 70% das mulheres engravidam sem nenhum planejamento e muitas declaram que não ficaram felizes ao saber que seriam mães.  Isto quer dizer que uma quantidade enorme de pessoas gera filhos e se arrepende. Uma boa parte destas pessoas recusa-se a aceitar isto, até porque admitir que não se quer um filho é um tabu social. Muitos que se tornaram pais assim, não querem que nada em sua vida mude após seu filho nascer. Então, se não conseguem alguém para entregar a criança, principalmente durante sua diversão, levam junto e agem como se todos os outros em volta tivessem o dever de dar a ele todas as prioridades só porque ele tem um filho. Esta seria outra explicação para uma criança de cerca de cinco anos estar naquele baile, egoísmo de pais que não querem filhos. Parece a mais plausível para o caso considerando a atenção dada à criança.
Bem, até agora este assunto tratou só dos pais. Mas, não há como não abordar a questão do prejuízo que a criança pode ter. Imagino que não seja necessário consultar um psicólogo para perceber que uma criança com cerca de cinco anos estaria melhor em casa, dormindo como o recomendado para o horário, do que em um baile como o descrito.
Por fim, existem ainda muitas pessoas que vão ao baile para se divertir e não para se preocuparem com o filho de outra pessoa. A maioria dos adultos que está ali, naquele momento, não quer cuidar de um pequeno. Então, é bom para a criança e para os demais adultos presentes no evento, que os menores não sejam trazidos a situações como esta, o que, inclusive, deveria ser proibido. É aconselhável verificar a idade a partir da qual é adequada a presença da criança no evento ao qual se pretende ir. Da mesma forma é importante o bom senso para verificar a adequação da presença de determinadas faixas etárias da infância em eventos, sejam bailes, formaturas, casamentos, encontros dançantes, domingueiras ou o que for.
Quando se tem filhos, é comum achar que os outros também tem a obrigação do ônus desta escolha. Mas, isto não é plenamente verdadeiro. Quem decidiu ter filhos ou os teve mesmo sem decidir, assumiu a missão irrevogável de dar a eles o melhor, e isto significa, muitas e muitas vezes, abrir mão do que é melhor para si. Logo, papais e mamães indispensáveis para nossa espécie, pensem primeiro em seus filhos, depois nos outros adultos que querem desfrutar da festa e, por fim, se sobrar espaço, pensem em si próprios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário