27 de abril de 2013

Durante 6 minutos acreditei que sabia dançar Tango!

Marco Antonio Perna, em seu livro Samba de Gafieira, a História da Dança de Salão Brasileira, de 2005, sugere a existência de 5 tribos na Dança de Salão:

1 – Samba de Gafieira, Bolero Carioca e Soltinho (Swing);
2 – Tango argentino;
3 – Lambada/Zouk;
4 – Salsa e Merengue;
5 – Forró.

Sempre achei esta proposta uma sacada. E minha escolha, desde o início, foi o Samba, Bolero e Soltinho. Inicialmente por achar que era um dever valorizar a dança do nosso país, depois, por encanto. O Zouk também me apaixonou, mas, como me acidentei em uma dança com consequências permanentes, não há mais como explorá-lo plenamente. Por fim, esta escolha também foi uma decisão por não aprender Tango. Inclusive porque ao ver pessoas da tribo do Samba dançando Tango, sentia uma contaminação visível e nitidamente difícil de controlar. Como alguns professores curitibanos que começaram a dançar no tempo em que houve o auge da Lambada e, por exemplo, não conseguem dançar um Bolero sem que vejamos Lambada.

A vida dá muitas voltas, como todos sabemos, e hoje, circunstâncias particulares me fizeram olhar para o Tango. Olhar. Ainda não aprendi nada.

Como conheço Vania Andreassi há muitos, muitos anos mesmo, e considero-a uma referência de seriedade em Tango para salão, procurei-a. Fomos, meu marido, eu e minha grande parceira, minha irmã, conhecer o espaço Todo Tango, que merecerá uma postagem especial em outra ocasião. Seja como for, a ideia era assistir. Veio um bolero, claro, não tinha como não dançar. Um soltinho, lá fomos para a pista. E começaram os Tangos, cuja expectativa era assistir. Que linda visão. O espaço abrangia uma amplitude de faixa etária fantástica. Um casal nos emocionou e foi impossível não arriscar uma conversa quando vieram para suas mesas. E o cavalheiro deste casal tirou minha irmã para dançar. Foi incrível, a visão de fora, leiga, era de uma dama que há muito tempo dançava Tango. Depois, tive o privilégio de ser tirada por este cavalheiro. Dois Tangos. Espantoso, me senti como se soubesse dançar Tango! Este é o tipo de cavalheiro que no artigo “Cavalheiros são veículos” (Revista Dança em Pauta, 18 de janeiro de 2011), me referi como o que faz a dama se sentir uma joia rara.

Dancei com muitos cavalheiros experientes em palco e, nem sempre eles eram exímios no salão. Muitas vezes me faziam sentir que não sabia nada de dança. Levei anos para perceber, eram eles que não sabiam conduzir. Este cavalheiro, dos dois primeiros Tangos da minha vida, me fez dançar como se eu soubesse o que é um Tango, e eu não sei. Parecia uma mágica. Não é qualquer cavalheiro que tem a capacidade de fazer isto com uma dama que não conhece a dança.

Obrigada por esta sensação indescritível, por me manter acreditando que sabia dançar Tango durante 6 minutos... Paulo Roberto Barcala.

26 de abril de 2013

Sexo e Dança de Salão

Não é de hoje que esta relação misteriosa entre sexo e Dança de Salão me encanta. 

Como divulguei há alguns dias, um novo artigo estaria para sair. Ontem, foi publicado na Revista Dança em Pauta, sob o título: "O que Dança de Salão tem a ver com sexo?". A edição do artigo feita pela Revista Dança em Pauta ficou belíssima. De brinde, ao final do texto, está disponibilizado um vídeo do documentário “Instintos – O lado selvagem do comportamento humano”, produzido pela rede BBC, de Londres, citado no artigo.





Confira o artigo em: http://www.dancaempauta.com.br/site/artigo/o-que-a-danca-de-salao-tem-a-ver-com-sexo/

19 de abril de 2013

Sertanejo é Dança de Salão?

Esta semana tive a curiosidade de saber que Dança de Salão o público curitibano mais procura em escolas de dança. Como estas instituições vivem deste público, certamente ofertam o que é mais procurado por ele, uma questão natural do mercado. 

Fiz uma busca no Google com as palavras chave: escolas Dança de Salão Curitiba. Em seguida elenquei as dez primeiras escolas cujos sites foram indicados em links não patrocinados. 

São elas na ordem em que aparecem: 
  1. Dance Sempre
  2. Almir Lima
  3. Cido Arruda
  4. Carlinhos Moro e Katia Souza
  5. Flor de Lotus
  6. Sandra Ruthes
  7. Walmir Secchi
  8. Edson Carneiro
  9. Gestual
  10. Oito Tempos
Acessei todos os sites e anotei os nomes das danças que ofereciam como Dança de Salão. Por fim, somei em quantas escolas cada dança foi citada obtendo o seguinte resultado:


Bolero 10
Forró 10
Salsa 10
Samba 10
Sertanejo 10
Tango 10
Zouk 9
Soltinho 7
Cha-cha-chá 6
Valsa 5
Merengue 4
Dança gaúcha 3
Rock 3
West Coast 2
Roda de cassino 2
Milonga 1
Lindy hop 1
Lambada 1
Discoteca 1

Seis danças são oferecidas por todas as 10 escolas, provavelmente, por serem as mais procuradas: Bolero, Forró, Salsa, Samba, Sertanejo e Tango.

O que chama a atenção entre as danças mais procuradas é a denominada "Sertanejo", que não é encontrada na literatura como uma Dança de Salão. Ao retomarmos algumas definições percebemos algo curioso:

Dança de Salão – é a arte conservacionista que se universaliza em práticas sociais, não cênicas, nem esportivas, consistindo na interpretação improvisada da música através dos movimentos dos corpos de um casal independente, quando o cavalheiro conduz a dama.
Exemplos: Samba de Gafieira, Bolero Carioca, Tango, Lambada, Swing (Soltinho).

Dança Social – é a dança recreativa de prática social, não cênica, nem competitiva, sem natureza artística, desprovida de técnica elaborada ligada a sua origem, que se universaliza e consiste em movimentos dos corpos de um casal independente, sob a condução do cavalheiro.
Exemplo: Curinga.

Dança Popular – é uma manifestação cultural de um povo, mantida por prática social, passível de evolução, que não se universaliza, não é competitiva nem cênica. Não é dançada necessariamente com trajes típicos.
Exemplos: Cueca, no Chile, Frevo, no Brasil, ambas danças ainda praticadas; Waltzer, dançada popularmente por volta do século XV em algumas regiões como a periferia de Viena, era mais grosseira que a Valsa, entretanto, deu origem a ela quando adaptada para os salões aristocráticos.

Discoteca – é a dança em que não se formam pares enlaçados, cada indivíduo movimenta-se aleatoriamente, balançando o corpo, pode-se dançar sozinho, um de frente para o outro ou formando círculos de variados tamanhos. Segundo Perna (2005), consiste “em dançar separado da parceira, sacudindo e balançando, com rebolados e amplos movimentos, além de muitas caras e bocas”.
Exemplo: dança da discoteca.

Dança Tradicionalista Social - é dança preservacionista de prática social, não cênica, nem competitiva. Pode ser dançada socialmente com trajes típicos.
Exemplo: Danças Gaúchas disseminadas pelos CTGs.

Dança da Moda – dança que se universaliza por mecanismos midiáticos.
Exemplos: Macarena, Axé.

Fonte dos conceitos: Conceitos e definição de Dança de Salão”. Revista Lecturas Educación Física y Deportes. Buenos Aires. Ano 17. Número 172. Setembro, 2012. Maristela Zamoner

Analisando estes dados notamos que o Sertanejo não se encaixa com precisão no conceito de Dança de Salão uma vez que não é uma arte conservacionista, ou seja, que evolui guardando qualidades técnicas que remontam a sua origem. É uma dança mais compatível com a definição de Dança Social ou talvez até de Dança da Moda. Outras danças elencadas também fogem da definição de Dança de Salão: Danças gaúchas e Discoteca.

Relembrando o artigo sobre o Soltinho, de Cristovão Christianis, notamos ainda que de fato as escolas não estão oferecendo esta dança em sua totalidade uma vez que apenas 7 delas o citam.

Assim, notamos que o público ainda não conhece bem o que é a Dança de Salão. Mas, o fato das escolas oferecerem o Sertanejo é positivo uma vez que atrai este público oportunizando a aproximação com a Dança de Salão e o contato com suas belezas e encantos.

15 de abril de 2013

Anti-horário ainda é regra de salão?

Este fim de semana estive com meu marido em um baile na cidade de União da Vitória, por sinal uma cidade deliciosa. Foi um evento social familiar belíssimo, muito bem organizado e com anfitriões encantadores. O baile abriu com três valsas seguidas por um forró em que um casal destacou-se por ser o único, no salão repleto de bailantes, a seguir o sentido anti-horário. Também foi interessante notar que este casal, na faixa etária de cerca de 30 anos de idade, dançava uma base de dois passos para um lado e um para outro, ao som do Forró. Notava-se um modo de dançar característico da prática das danças gaúchas, o que, possivelmente, explica o fato de ser o único casal a seguir o sentido anti-horário.
Milton Saldanha, editor do Jornal Dance já publicou diversas matérias bastante enfáticas sobre bailes em que poucos respeitam o sentido anti-horário. Acredito que ele discuta esta questão em seu jornal há quase duas décadas, apontando várias causas. O autor exclui de sua crítica o iniciante e ressalta o fato de que ocorrem falhas no ensino uma vez que os alunos aprendem a fazer os passos sem se deslocarem. Mas, se lembrarmos bem, muito antigamente, antes de se proliferarem escolas de dança, haviam bailes em que o sentido anti-horário era respeitado, todos conheciam esta regra, não raro tendo aprendido em casa. Mas, o tempo correu, gerações se passaram, os bailes mudaram e os salões também. Assistindo a dança em um salão como foi neste fim de semana, chego a me perguntar se a regra de seguir dançando no sentido anti-horário em um salão ainda existe.

11 de abril de 2013

Soltinho, a ararinha azul de Cristovão Christianis?

Figura 1: Cyanopsitta spixii. Proceedings of the Zoological Society of London 1878. Imagem em Domínio Público

A revista Dança em Pauta acaba de publicar o artigo "Soltinho: uma dança em risco de extinção", de Cristovão Christianis.

Primeiramente, sobre o autor, lembro que em agosto de 2011 publicamos em conjunto o artigo "Reflexões sobre o Bolero e sua história", uma empreitada extremamente produtiva da qual jamais esquecerei. Ao longo do desenvolvimento deste trabalho pude perceber a seriedade de Cristovão, sua inteligência para pesquisa e percepção aguçada sobre a Dança de Salão. Noto que seu novo artigo reafirma estas características, independente de seu cunho não científico. Ele percebeu algo que vem gradativamente ocorrendo com o Soltinho e soube materializar com excelência em seu texto. Realmente, o Soltinho merecia mais respeito, se não por nada, devido ao fato de ser uma obra de arte genuinamente brasileira. A colocação de Cristovão, embora sutil, deixa clara outra realidade, este preconceito parece sim ter origem na sala de aula. É, portanto, um excelente tema de reflexão para professores, formadores de opinião que demonstram desprezo por esta dança diante de seus alunos.

Afinal, o Soltinho é parte de nossa identidade e seria mais inteligente, e justo, agirmos no sentido de levá-lo para além de nossos limites geo-políticos do que simplesmente pisá-lo para abrir espaço a estrangeirismos. Claro que todas as danças devem ter seu espaço, desde que para isto não seja necessário extinguir uma dança "nativa" em favor de uma "exótica", emprestando os consagrados termos biológicos como o próprio Cristovão sabiamente fez. Um ser vivo que vem de outro território, portanto é exótico, e começa a se multiplicar prejudicando os nativos é considerado um bioinvasor e exige medidas austeras de controle para preservação da biodiversidade local. No contexto da Dança de Salão, se uma dança nativa começa a ser prejudicada por danças exóticas, passa a ser pertinente pensar em medidas de controle de exóticas invasoras e/ou recuperação da dança nativa. Afinal, o conceito de biodiversidade moderno abarca a cultura que, por sua vez, engloba a Dança de Salão. Logo, falar em possibilidade de extinção de uma dança, independente disto parecer alarmista, é falar em perda de biodiversidade cultural.

Pensemos por um momento no caso da ararinha azul (Cyanopsitta spixii), nativa do Brasil, exposta a pressão ambiental que o Soltinho sofre agora, forçando a redução de sua expressão. A situação chegou ao ponto de ser declarada extinta na natureza brasileira em 2002. Mas, no exterior, este animal é criado em quantidades significativas. A pressão sobre a ararinha azul pode muito bem ser comparada ao que começa a ocorrer com o Soltinho. Por isto precisamos refletir com urgência se queremos que o Soltinho seja mais uma ararinha azul, um nativo extinto do salão brasileiro e talvez, com sorte e vergonha, conservado em cativeiros estrangeiros.

Considero este artigo não só uma brilhante iniciativa, mas, uma importante revelação de um "assédio cultural" perigoso contra o Soltinho. É tempo de revermos com cuidado esta questão e iniciarmos um movimento sério de "repovoamento" do Soltinho para que não seja conveniente avaliar possibilidades recomendáveis de controle de invasores. É momento para sua revitalização, valorização e divulgação.

Parabéns Cristovão Christianis. Acredito que seu artigo seja um divisor de águas na história do Soltinho no Brasil.

Confira o artigo em: http://www.dancaempauta.com.br/site/artigo/soltinho-uma-danca-em-risco-de-extincao/


9 de abril de 2013

Sexo e Dança de Salão

Este assunto sempre me interessou. Há anos tem sido motivação para pesquisa. Ao que tudo indica, embora o tema não motive muita gente, não estou só. 

Recentemente pude rever o documentário “Deepest Desires” da série “Human Instinct”, produzida pela BBC em 2002. O episódio, já na abertura, mostra casais dançando em um salão enquanto o apresentador, professor Robert Winston, introduz o complexo mundo da atração sexual. Há muito tempo, lembro bem, outra excelente produção que trazia a Dança de Salão para ilustrar assuntos científicos sobre a sexualidade humana foi exibida no episódio "Para amar e respeitar", de Grandes Séries: "A Ciência do Sexo", trazida ao Brasil pelo canal de TV à cabo GNT, em 2004. A série toda é baseada no livro “Anatomy of Love”, um best seller de 1993 da antropóloga norte americana Helen Fisher, especializada em sexualidade humana.

Estes dois documentários são apenas exemplos reveladores do inevitável olhar biológico sobre a Dança de Salão. 

Depois de uma produtiva provocação da editora Keyla Barros da Revista Dança em Pauta, comecei a trabalhar um novo artigo sobre o assunto, que deve ser publicado nas próximas semanas.



Deepest Desires, confira em: