11 de abril de 2013

Soltinho, a ararinha azul de Cristovão Christianis?

Figura 1: Cyanopsitta spixii. Proceedings of the Zoological Society of London 1878. Imagem em Domínio Público

A revista Dança em Pauta acaba de publicar o artigo "Soltinho: uma dança em risco de extinção", de Cristovão Christianis.

Primeiramente, sobre o autor, lembro que em agosto de 2011 publicamos em conjunto o artigo "Reflexões sobre o Bolero e sua história", uma empreitada extremamente produtiva da qual jamais esquecerei. Ao longo do desenvolvimento deste trabalho pude perceber a seriedade de Cristovão, sua inteligência para pesquisa e percepção aguçada sobre a Dança de Salão. Noto que seu novo artigo reafirma estas características, independente de seu cunho não científico. Ele percebeu algo que vem gradativamente ocorrendo com o Soltinho e soube materializar com excelência em seu texto. Realmente, o Soltinho merecia mais respeito, se não por nada, devido ao fato de ser uma obra de arte genuinamente brasileira. A colocação de Cristovão, embora sutil, deixa clara outra realidade, este preconceito parece sim ter origem na sala de aula. É, portanto, um excelente tema de reflexão para professores, formadores de opinião que demonstram desprezo por esta dança diante de seus alunos.

Afinal, o Soltinho é parte de nossa identidade e seria mais inteligente, e justo, agirmos no sentido de levá-lo para além de nossos limites geo-políticos do que simplesmente pisá-lo para abrir espaço a estrangeirismos. Claro que todas as danças devem ter seu espaço, desde que para isto não seja necessário extinguir uma dança "nativa" em favor de uma "exótica", emprestando os consagrados termos biológicos como o próprio Cristovão sabiamente fez. Um ser vivo que vem de outro território, portanto é exótico, e começa a se multiplicar prejudicando os nativos é considerado um bioinvasor e exige medidas austeras de controle para preservação da biodiversidade local. No contexto da Dança de Salão, se uma dança nativa começa a ser prejudicada por danças exóticas, passa a ser pertinente pensar em medidas de controle de exóticas invasoras e/ou recuperação da dança nativa. Afinal, o conceito de biodiversidade moderno abarca a cultura que, por sua vez, engloba a Dança de Salão. Logo, falar em possibilidade de extinção de uma dança, independente disto parecer alarmista, é falar em perda de biodiversidade cultural.

Pensemos por um momento no caso da ararinha azul (Cyanopsitta spixii), nativa do Brasil, exposta a pressão ambiental que o Soltinho sofre agora, forçando a redução de sua expressão. A situação chegou ao ponto de ser declarada extinta na natureza brasileira em 2002. Mas, no exterior, este animal é criado em quantidades significativas. A pressão sobre a ararinha azul pode muito bem ser comparada ao que começa a ocorrer com o Soltinho. Por isto precisamos refletir com urgência se queremos que o Soltinho seja mais uma ararinha azul, um nativo extinto do salão brasileiro e talvez, com sorte e vergonha, conservado em cativeiros estrangeiros.

Considero este artigo não só uma brilhante iniciativa, mas, uma importante revelação de um "assédio cultural" perigoso contra o Soltinho. É tempo de revermos com cuidado esta questão e iniciarmos um movimento sério de "repovoamento" do Soltinho para que não seja conveniente avaliar possibilidades recomendáveis de controle de invasores. É momento para sua revitalização, valorização e divulgação.

Parabéns Cristovão Christianis. Acredito que seu artigo seja um divisor de águas na história do Soltinho no Brasil.

Confira o artigo em: http://www.dancaempauta.com.br/site/artigo/soltinho-uma-danca-em-risco-de-extincao/


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